Por Márcia Oliveira, Arquiteta especializada em design de interiores corporativos
A correria do dia a dia, as demandas sempre urgentes e o ritmo acelerado do trabalho contemporâneo têm transformado os escritórios em verdadeiros campos de batalha para nossa saúde mental. Em Sabará, cidade histórica da região metropolitana de Belo Horizonte, não é diferente. Empresas locais enfrentam o desafio de equilibrar a preservação do patrimônio arquitetônico com a necessidade de ambientes de trabalho que promovam bem-estar e produtividade.
Quando fui convidada para redesenhar o espaço de uma empresa de contabilidade instalada em um casarão do século XIX no centro histórico, confesso que fiquei com um frio na barriga. O lugar tinha aquele charme inconfundível das construções antigas de Sabará, mas era um verdadeiro pesadelo ergonômico. Funcionários reclamavam constantemente de dores nas costas, tensão no pescoço e, consequentemente, altos níveis de estresse.
“A gente até brincava que vinha trabalhar e saía de lá precisando de fisioterapia”, me contou Andréia, gerente administrativa, durante nossa primeira conversa sobre o projeto. O escritório tinha aquelas cadeiras antigas, daquelas que parecem feitas pra gente ficar desconfortável de propósito, sabe? Mesas em alturas irregulares e iluminação tão precária que, no final do dia, todo mundo saía com dor de cabeça.
O problema que encontramos não era incomum. Muitas empresas em Sabará, especialmente aquelas instaladas em construções históricas, enfrentam o dilema de preservar a estética original enquanto garantem condições adequadas de trabalho. O resultado, na maioria das vezes, é um ambiente bonito para os clientes, mas extremamente estressante para os funcionários.

A transformação pelo mobiliário adequado
Durante o processo de redesenho, a primeira coisa que fizemos foi trocar todas as cadeiras. Optamos por modelos ergonômicos que permitiam ajustes de altura, inclinação e apoio lombar. Parece simples, mas você precisa ver a diferença que isso fez! Lembro como se fosse hoje o Rodrigo, um dos contadores, sentando na nova cadeira pela primeira vez e falando: “Uai, é como se eu tivesse flutuando!”
As mesas antigas, embora charmosas, foram substituídas por versões reguláveis que permitiam alternar entre trabalhar sentado e em pé. Essa flexibilidade mostrou-se fundamental para reduzir a tensão muscular e manter a energia ao longo do dia. No começo, alguns funcionários torceram o nariz para essa ideia de “ficar em pé trabalhando”, mas depois começaram a revezar naturalmente entre as posições.
Um dos erros que cometi inicialmente foi não considerar adequadamente a acústica do ambiente. Aquelas paredes grossas e os tetos altos, típicos das construções antigas de Sabará, criavam uma péssima qualidade sonora. O barulho reverberava, tornando difícil a concentração. Depois de algumas semanas, tivemos que instalar painéis acústicos disfarçados como elementos decorativos para absorver o excesso de ruído.
Outro desafio específico de Sabará é lidar com a umidade característica da região, especialmente nos períodos chuvosos. Móveis de madeira não tratada rapidamente apresentavam problemas, gerando preocupação adicional para os usuários. Acabamos optando por materiais compostos com aparência de madeira, mas muito mais resistentes às condições climáticas locais.

Os detalhes que fazem diferença
O que percebi durante esse projeto é que são os pequenos detalhes que transformam completamente a experiência no ambiente de trabalho. A textura dos tecidos das cadeiras, por exemplo, foi escolhida cuidadosamente. Optamos por um material respirável, que não esquenta durante os dias mais calorosos — e olha que Sabará pode ficar um calorão danado no verão!
Incluímos também plantas naturais estrategicamente posicionadas pelo escritório. Além de melhorarem a qualidade do ar, trouxeram aquela sensação de aconchego que só o verde consegue proporcionar. A Mariana, recepcionista da empresa, chegou a comentar que sentia menos cansaço nos olhos desde que colocamos um pequeno jardim vertical próximo à sua estação de trabalho.
Uma das coisas mais bacanas que fizemos foi criar pequenos espaços de descompressão com poltronas confortáveis e iluminação ajustável. Nesses cantinhos, os funcionários podiam se retirar por alguns minutos para relaxar quando sentiam a tensão subindo. A princípio, o dono da empresa ficou meio ressabiado, achando que o pessoal ia ficar só “de folga”. Mas não demorou pra ele perceber que, na verdade, a produtividade até aumentou.
Minha sugestão pra quem está pensando em fazer uma mudança parecida é: não economize nos pontos de contato — cadeira, mesa, teclado, mouse. É onde seu corpo interage diretamente com o ambiente. E também, valorize as texturas e sensações. Um apoio de braço com aquele toque aveludado, um descansa-pés com textura massageadora, um mouse pad que parece seda no contato com o pulso… tudo isso reduz o estresse quase que inconscientemente.
Depois de seis meses da implementação das mudanças, os níveis de absenteísmo na empresa caíram quase pela metade. As pessoas simplesmente ficavam menos doentes! E olha que interessante: até as interações entre os colegas melhoraram. Com menos desconforto físico, as pessoas se mostravam mais dispostas a colaborar e ajudar umas às outras.
O mais gratificante foi receber a mensagem da Dona Luiza, uma das contadoras mais antigas da empresa, que sofria cronicamente com dores nas costas. Ela me mandou um áudio todo emocionado dizendo: “Moça, pela primeira vez em quinze anos, cheguei em casa sem precisar tomar remédio pra dor. Tô até conseguindo brincar com meus netos de novo!”
Aqui em Sabará, onde o velho e o novo convivem constantemente, aprendemos que não precisamos sacrificar o conforto em nome da tradição. É possível criar ambientes de trabalho que respeitem a história local e, ao mesmo tempo, promovam bem-estar e reduzam o estresse.
No inverno, quando bate aquele friozinho característico da nossa região, os espaços redesenhados se mostram ainda mais acolhedores. As superfícies táteis dos móveis, pensadas para serem agradáveis ao toque, proporcionam uma sensação imediata de conforto. E nos dias mais quentes, os materiais respiráveis fazem toda diferença.
Para quem está considerando investir em mudanças no ambiente de trabalho em Sabará, lembro sempre que não é preciso quebrar paredes ou fazer grandes reformas estruturais. Muitas vezes, a simples substituição estratégica do mobiliário já transforma completamente a experiência dos funcionários — e consequentemente, os resultados da empresa.